sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Falando sobre VENCÊ-LOS-EMOS AO RAIAR D’AURORA [Rogério Barroso]

Parabenizo-lhe, Dr. Rogério, por esta magnífica expressão simbólica de resistência! Quantas lições podem ser tiradas deste video! A ausência de som não me incomodou. Ao contrário, fez ressaltar a mensagem, a poesia e a força da imagem. Destaco também a qualidade de reprodução, pois não existem pausas para o carregamento do video.

Eis a grande lição do velho adágio "A união faz a força"! Na metáfora da caçada, do abate da presa, podem ser abstraídos temas como a exploração, a miséria, o não cumprimento das promessas políticas, a guerra, os problemas relacionados ao Planeta ( aquecimento global, destruição de reservas naturais e espécies nativas, entre outros). Pode ser extraído o exemplo de que esses e outros problemas se solucionam quando um povo trabalha consciente na busca de respostas à intempérie que o atinge. Um povo unido e consciente se ergue, repensa erros, estabelece estratégias de combate, impõe-se pela força de sua cultura que se enriquece com a de outros, mas nunca se empobrece pelo desfalque da sua...

Equipara-se o meio hostil, selvagem, de luta pela sobrevivência à atualidade, à quotidianeidade de nosso também selvagem ambiente nas cidades. Nessa luta pela sobrevivência, hodiernamente, utilizamos armas sofisticadas, sutís por vezes, mas, o objetivo continua a ser o mesmo: sobreviver. O grande problema a ser enfrentado continua o mesmo: é preciso superar a condição de homem - seja indivíduo, seja grupo - para que se entenda a si, ao significado e ao porquê do grupo... é preciso que se argua o porquê da luta, da fome do outro ( e da nossa própria), da riqueza desnecessária, da balança desequilibrada, o porquê da arma, o porquê do ataque...

Haverá o dia em que superaremos nossa natureza belicosa ou isto é uma elocubração desprovida de seriedade? Ao voltarmos nosso olhar para a Natureza, dâmo-nos conta de lições preciosas... Dâmo-nos conta de que somos todos, protagonistas, antagonistas e, ao mesmo tempo, elos de uma cadeia de sobrevivência comum... No julgamento sincero de nossas consciências, será que algum dia não haverá repugnância no que fazemos e alçamos à categoria de valores? Haverá o dia em que não será preciso entrincheirar-se nas fronteiras por trás de bandeiras a se defender das fronteiras e bandeiras de outrem?

Este video: uma metáfora da existência, uma poesia viva da resistência. O círculo que nos remete ao mito do eterno retorno: o grupo unido que caça, a alteração dos papéis iniciais... a inversão de posições entre vencedor e vencido, a perturbação da "ordem natural", o nascimento da possibilidade da ruptura com o que é previsto como fim... A reação inesperada que subverte, o ideal que enobrece, encoraja, humaniza, que enfrenta, que resgata, que levanta o que caiu...

A grande contradição: a de poder ser "um" e frágil e "um" e forte ao mesmo tempo; a de saber-se "um" distinto e "um" amalgamado a outros "uns"; a de saber-se "um" que se imola por outros "uns"... sem consciência de que são "um"...

As cenas que vemos neste video refletem a limitação do indivíduo, a passagem do final previsto para a dialética construção de um desfecho inesperado. E já agora visto, feito, possível, pois!

O ato instintivo tanto mata, quanto salva; tanto defende, quanto foge... O que é a vitória? É o enfrentamento do medo? Articulação, união de esforços, desejo tornado ação, ato tangível? Estas imagens reconstroem as nossas frustrações, os desejos, os instintos, as angústias, os medos... são imagens que evocam o íntimo de nós mesmos ... indivíduos e povos.

A história das sociedades revista sob o ângulo da Natureza... Aqui, a leitura poderia ser a de que há atos predatórios, há matança, há o abate por ideologias predatórias; a moderna caçada esconde em suas vestes a cor do sangue, a antropofágica morte de Deus no altar das religiões... Caçadores e presas humanos ostentam bandeiras de países, a união às vezes força a construção de blocos em nome da Economia, da Política, da Religião... Motes diversos a justificarem atos predatórios, nomes modernos para caçadas desiguais...

A que pode resistir um grupo? Pode haver resistência: dos sonhos, dos ideais, dos valores nobres... Resistência da cultura popular (tradições, língua, costumes etc., frente à depredação da globalização)... Como no video, pode haver oposição não prevista, negativa-positiva, pode o conformismo transmutar-se em inconformismo; como no video, pode haver enfrentamento e estupefação dos personagens, recriação de uma conclusão. E eis que o dilaceramento do si ao ver-se, ver-se a si mesmo no "um", vislumbra uma possibilidade e berra alertando o "um" que já aconteceu o desfalque, que houve um rasgo no corpo comum! E o passo decidido de "um"do grupo insufla nos demais a possibilidade de uma vitória: o grupo transforma, transforma-se em mola propulsora que nos remete todos a um clímax de conteúdo imagético-emocional profundo... visceral.

Obrigada, Dr. Rogério, por esta metáfora, por este convite à reflexão de todos nós. Obrigada pela sensibilidade da mensagem deixada aos seus e que agora, por seu intermédio, deixo também aos meus. Um sincero e fraternal abraço. Alpha Leninha.



Citação

VENCÊ-LOS-EMOS AO RAIAR D’AURORA [Rogério Barroso]





As armas carregadas de raiva: esta é a prova de que, unidos, podemos vencer os opressores.



A empresa «YouTube», propriedade da empresa «Google», desactivou o som deste filme. Se quizer o filme completo, peça-o para rbestudos@sapo.pt, indicando o seu nome e o endereço de email no qual quer receber.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Falando sobre VINTE ANOS


Trago para a reflexão de meus amigos este interessante excerto de Daniel Sampaio, professor catedrático de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Lisboa. Aqui o autor aborda, a partir de uma comparação dos jovens de 20 anos dos anos 60 com os de hoje, a necessidade da "transmissão do justo equilíbrio entre a experiência do passado e a verificação da novidade do presente", porque, na verdade, "o tempo atual também é dos mais velhos".

Há grandes e, por vezes, abissais distâncias entre um jovem de 20 anos e os referidos à época dos anos 60, 70... Realmente, são diferentes, como bem colocou o autor. A questão não é apontar os pontos fracos dos jovens de hoje, os fortes daquelas gerações e sim, a meu ver, tirarmos lições do que foi ganho com o passado e apreender o significado das posturas destes jovens. Talvez haja uma mesma contestação, só que expressada de forma diferente... Em que medida, também, somos nós os responsáveis por esta apatia?

Destaco uma crítica - sutil e elegante - feita pelo autor com relação ao sistema educacional. É imprescindível que os especialistas da área de Educação e a família se adaptem à nova realidade que cerca o jovem. Neste mundo onde a informação corre célere através da mídia, da Internet, particularmente, urge pensarmos todos um modo de encaixar valores éticos, um modo de se valorizar e preservar uma "consciência histórica" de si. Estabelecer pontes nestas distâncias que a cada dia parecem estar maiores... para que não se perca em nós mesmos e neles o sentido de tanta informação, para que não nasça o sentimento de que tudo é "normal" e tem o mesmo valor (como nos acostumam nos telejornais, onde ao lado de uma tragédia passa-se a um desfile de moda...).

Muito interessante a observação do autor quanto à percepção do que é real ou virtual para os nossos jovens de 20 anos; mas vou além: já para as nossas crianças também! A morte real de milhões lhes chegam da mesma forma que um combate virtual onde eles derrubam os maus. As aulas, muitas vezes, não necessitam ser presenciais. Há até mesmo "consultórios" e escritórios on line. Cirurgias e julgamentos, em alguns casos, já são feitos através de uma câmera. A conversa com os pais, em algumas famílias, é mantida através do Messenger, do Orkut, por exemplo... As relações sexuais já não necessitam do toque e há mais amigos virtuais que de carne e osso... A contestação pode vir tanto sob a forma de assinaturas virtuais em petições on line, quanto - de uma forma desvirtuada - de ataques desrespeitosos, que denigrem a imagem alheia...

É preciso sim que vejamos nestes jovens e em nós mesmos sobreviventes. Sobrevivem aqueles à impermanência; sobrevivemos nós à dissolução de um mundo hoje "retrógrado"... Aprendamos a estabelecer elos - virtuais, se preciso for; ajudêmo-los a criar elos reais...

Eis o texto de Daniel Sampaio:

Citação

VINTE ANOS

Quando tinha vinte anos li num livro de Fernanda Botelho (já não me lembro qual...) : "Vinte anos, a idade mais bela da vida (dizem...)" e fiquei, durante muito tempo, a pensar naquele "dizem". Na altura, não tinha qualque dúvida sobre a glória dessa época da vida : passadas as inquietações da adolescência, podia fazer tudo o que me apetecesse __ estudar na Faculdade de Medicina de Lisboa, divertir-me com amigos e amigas e combater Salazar nos movimentos estudantis.

Vivia-se uma época de grandes mudanças : as mulheres tinham abandonado a crença de que a maternidade e a gestão do lar seriam as suas únicas fontes de realização e começavam a estudar mais e a trabalhar fora de casa ; os filhos passaram a ser planeados através da contracepção e confrontavam-se com as dificuldades de muitos lares desagregados pelo divórcio ; a liberdade gritava-se na rua, nas barricadas do Maio de 68 ou na contestação à guerra do Vietname ; e a guerra colonial portuguesa, condenada em todas as instâncias internacionais, era mantida pelo autoritarismo da ditadura, obrigando muitos de nós a partir para uma luta sem sentido.

Foi uma época intensa, que recordo com alguma nostalgia ; ter vinte anos nos anos 60 significava lutar pela paz, pela liberdade a todos os níveis e em todos contextos, colocar sempre a verdade nas relações, viver novas expriências-limite sem os constrangimentos do passado. Foi bom ? Foi muito belo ! Não importa que os eternos críticos responsabilizem os anos 60 pela educação liberal na família e na escola, transmitida aos filhos pelos jovens de há quarenta anos e causadora, para alguns, do excesso de gratificação e permissividade visíveis nas crianças de hoje : a verdade é que a influência da maneira de pensar e de agir dessa época foi decisiva em muitos sectores. O que torna o balanço final bem positivo, se a análise tiver objectividade já permitida pelo tempo que passou.

E agora : o que significa ter vinte anos ? Impressiona verificar como tudo mudou e qualquer comparação não se justifica. As discussões actuais sobre se os jovens de hoje são melhores ou piores, ou se sabem mais ou menos coisas, carecem de sentido : são diferentes, e isso é que importa ter em conta.

Ter hoje vinte anos significa sentir na pele a precariedade do emprego e a necessidade de estudar mais. Compreender à sua custa o conceito de globalização e o fim das fronteiras rígidas, porque ninguém sobreviverá com sucesso sem conhecer o mundo, com tudo do bom e do mau que hoje nos é mostrado a cada instante. Perceber o fim das utopias que tudo pretendiam explicar, mas ter a certeza de que novas formas de participação cívica estão agora ao alcance de um blogue ou de uma petição online. Saber que nada é previsível porque um ataque terrorista pode matar milhares na vida real, ao mesmo tempo que um jogo virtual permite "destruir", com um só gesto, todos os "maus" das nossas estórias.

O mundo chega aos jovens de hoje através de um ecrã de um computador e a televisão tradicional em breve será para eles um objecto obsoleto, interessante apenas para pais e avós. Os seus ídolos são variados, e os seu gostos heterogéneos, porque o acesso à cultura já não depende apenas da transmissão dos mais velhos, chega-lhes por um sitio na internet ou pelo mail de um amigo.

A geração-net (dos vinte anos de hoje) não contesta os valores da sociedade de consumo, como fizeram os seus avós nos anos 60. Não adere às utopias revolucionárias de 70, nem se deixa convencer pelas raivas de 90 : tenta sobreviver no caos à sua volta, lidar coma flexibilidade dso valores que os circundam, procurar um sentido. Ter uma boa casa e um belo carro, como aspiravam os seus pais «, não é agora um objectivo primordial : o que interessa é conquistar a autonomia que possibilite encontrar a sua via para a felicidade.

Sempre conectados (iPod , MSN, SMS...), os jovens de hoje são capazes de fazer várias coisas ao mesmo tempo com toda a atenção__ aspecto que os professores ainda não entenderam: Como não sabem se o mundo alguma vez ficará mais estável, vivem cada momento e constroem os seus valores, mas o perigo está mesmo aí : ninguém sobrevive bem sem passado e sem referências.

O desafio para os educadores de hoje consiste na transmissão do justo equilíbrio entre a expriência do passado e a verificação da novidade do presente, porque o tempo actual também é dos mais velhos.

in : "Porque Sim" Daniel Sampaio
Ed caminho set/2009
Imagem de http://bloguilibri.wordpress.com/2009/06/27/porque-sim-daniel-sampaio/

Campanhas que eu aprovo

Gentileza Gera GentilezaDoe mais que um clique
Procure uma entidade beneficente:
Diga não ao bloqueio de blogs