sexta-feira, 12 de março de 2010

Preto e branco



Esta reflexão foi embasada na postagem de meu especial amigo Prof. Andrade. Seria interessante seguir o link para enriquecer o texto, dada a riqueza do material exposto e para compreensão do mesmo. Êi-lo:
http://zebineh1954.spaces.live.com/blog/cns!CE2BD75A7D59DC60!7904.entry?sa=747606196 .

Disse certa vez, em uma de minhas postagens, que a questão do preconceito ( conceito formado previamente) é complexa: esbarra na ignorância ( no sentido de não conhecimento); alimenta suas raízes na cultura de um povo; impõe-se nas opiniões de quem tem o poder de ditá-las e, por vezes, descamba no fanatismo - em suas várias manifestações: religiosas, racistas etc. Impõe-se pela força, pelo temor reverencial... até que um reinado rua por um confronto, pela aeração de novas ideias...

Somos testemunhas, pela História, dos horrores provenientes das opiniões pré-formadas; dos estragos que um dogma pode causar; da bestialização que o fanatismo promove em um homem... extermínio de judeus, guerra de religiões (!?), perseguição às minorias e àquele que ousa ser diferente, na verdade, encobrem fragilidades disfarçadas pelo poder em fortalezas.

Destaco e ouso complementar as palavras de Gandhi citadas no texto de meu amigo: “A cada humilhação crescia a minha teimosia. Eu aprendi que a vida de até mesmo um simples inseto é sagrada e digna de respeito. E lutei! Da luta os brancos tinham medo. Do medo nasciam seus preconceitos. E dos preconceitos vinha a violência.” A cada humilhação - sofrida ou causada em outrem - aumenta em alguns uma teimosia, dependendo de quem a sofre, benigna ou malévola. A benigna é a que promove mudanças, aera e oxigena as ideias, revê leis injustas, anacrônicas, cria mártires-modelo, insufla ânimos ao "bom combate", fornece exemplos de sabedoria aos mais jovens...

Do outro lado, da malévola, a humilhação destrói quem a ela é submetido, aniquila e persegue os humilhadores no veneno de uma raiva cega... tão cega quanto o preconceito do que humilha... O efeito dessa forma de sentir uma humilhação, citando uma outra frase de Gandhi, poderia ser assim ilustrado: "A política do olho por olho pode deixar-nos a todos cegos"...

Disse Gandhi que "da luta os brancos tinham medo"... e o que seria esse medo? Penso que o desmascarar de uma mentira: a que foi alçada à categoria de verdade. O medo de descobrir que, afinal, o sangue do negro é rubro como do branco, sua mente é tão perfeita quanto a do branco, sua vida é tão sagrada quanto a de qualquer Criatura... seu Deus pode ser o mesmo que me criou ( e se a teoria que construímos a respeito do Amor estiver correta, esse Deus o ama como a mim!) ... sua força pode ser maior que a minha, sua produtividade pode ultrapassar a minha numa competição de cargos... o medo da tão temida igualdade. Porque a desigualdade confere poderes; constroem-se desiguais justiças amparadas na legitimidade promíscua de preconceitos convenientes ao Poder consentido...

Já disse o velho Freud que "todo mal advém da ignorância". E quanta verdade encerra esta ampla ideia! Preconceitos advêm do desconhecimento, de uma generalização, e geram males, guerras, fazem brotar violências - ora de mãos iradas, com sangue de inocentes, ora de argumentos, construções bem elaboradas, ideologias opressoras e nilificantes... são nomes, modus operandi diversos para um mesmo fim: "violens" (do latim, ato que viola).

Penso que o único caminho para se acabar com um preconceito é um diálogo com o objeto deste e consigo mesmo. É preciso um tête-a-tête franco, honesto, perquiridor dos motivos intrínsecos que lhe subjazem; é necessário um doloroso processo de auto conhecimento e de conhecimento do outro, uma humildade de aprendiz com sede de verdade, um reconhecimento honesto do vencido ao campeão.

Não é fácil vencer a si mesmo numa luta onde tentamos derrubar nossas verdades, onde construímos nossas defesas buscando nos proteger de nossas quimeras absurdas que nos colocam em pedestais... Não é fácil - do lado de lá, do outro - esquecer-se das mágoas de um passado injusto, dos ultrajes que a própria História documentou...

O combate de um preconceito - e agora, não só o racial - envolve questões culturais, políticas, econômicas, pessoais que dificilmente serão resolvidas de uma forma mágica, simples. Não basta que se elaborem leis, que se instituam medidas protecionistas, que se pronunciem publicamente, por parte das instituições, pedidos de perdão pelo passado. Há nódoas no alvo tecido de linho branco que amarelecem a cada discriminação velada... Canso-me de ver atitudes inconscientes de preconceito velado, tão arraigadas no íntimo dos brancos que passam desapercebidas: é a piadinha que envolve o negro a dirigir uma Mercedes (que sempre se pensa que é do patrão), ou a fala que soa despretenciosamente anti preconceituosa que diz que "não tenho nada contra os negros, tenho vários amigos negros, mas não me casaria com um... ou "ele é um negro de alma branca"... ou, ou, ou...

Nosso País tem sido considerado um modelo de convivência harmônica inter racial ( não gosto dessa palavra: raça), de tolerância (também torço o nariz, por vezes, a esta palavra...) para com as minorias; contudo, será mesmo que entre nós não exista um preconceito, mesmo que agonizante, sutil? Será que ao instituirmos quotas raciais para índios, negros, por exemplo, não estamos de certa forma com o pré conceito da fragilidade, da diferença? Não estaríamos todos escancarando uma desigualdade que nós mesmos ajudamos a fomentar?

Ainda sonho com um mundo onde essa insensatez, essa ignorância não exista mais. Onde o outro seja respeitado como Obra única de um Criador ininteligível... Ainda sonho com uma Humanidade que tenha abolido de seu vocabulário as palavras guerra, raça, ódio... Ainda sonho com leis introjetadas e não impostas de respeito à diversidade, à riqueza de culturas, à beleza de tudo que é vivo, fluido e em evolução permanente e inexorável... Sento-me ao lado de brancos, negros, pardos (?!), pedras, rios, animais, ao lado de um pôr-do-Sol, ao lado de estrelas e de vagalumes, ao lado do Deus que meu coração alcança; sento-me ao lado de idosos e crianças, gays, prostitutas e bandidos, padres e pastores e ateus, sábios da Ciência e sábios da vida "simples", ébrios e compositores, amantes e traídos...

Lembrei-me agora de uma canção belíssima de Paul MacCartney: Ebony and Evory, onde ele compara a convivência entre negros e brancos às teclas de seu piano... pretas e brancas a contribuírem magnificamente harmônicas no tecer de uma canção... Eis a letra simplificada:

ÉBANO E MARFIM

Ébano e Marfim,

Vivem juntos em perfeita harmonia

Lado a lado no teclado do meu piano.

Oh, Senhor, porque nós não?



Imagem de :

http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://oficinadeideias.files.wordpress.com/2007/06/elber-racial.jpg&imgrefurl=http://oficinadeideias.wordpress.com/2007/06/20/anuncio-de-concientizacao-nao-ao-preconceito-racial/&h=1022&w=1174&sz=153&tbnid=8VdyitzKqqH0tM:&tbnh=131&tbnw=150&prev=/images%3Fq%3DIMAGEM%2BDE%2BPRECONCEITO%2BRACIAL&usg=__kalVwok87LtI_bav2W7VSlQsa9o=&ei=502aS6iDMc6JuAechMiADg&sa=X&oi=image_result&resnum=4&ct=image&ved=0CA8Q9QEwAw

2 comentários:

  1. Para lidar com preconceitos é preciso manter a discussão assim, sempre viva - ou em carne-viva -, principalmente naquilo que nos diz respeito.

    Parabéns.

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  2. Gostei muito das suas reflexões. Aliás, todo o seu blog é excelente e rico em abordagens profundas. Mil estrelas!
    Abraços,
    Chris

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