domingo, 25 de outubro de 2009

Intolerância e fanatismo


Este é o terceiro texto da série Reflexões sobre Religião. Seria interessante ler o prefácio no texto número um("Ao pé da letra").

Foram os iluministas, à época das lutas religiosas entre católicos e protestantes, que mobilizaram a opinião pública francesa (com reflexos mundiais) contra a intolerância à qual viam-se submetidos - vítimas do fanatismo -, por seu livre pensar. Sendo assim, historicamente, o termo tolerância é posterior e consequente ao de intolerância.


Se, em outros campos, a intolerância provocou o Holocausto,a escravidão negra, o massacre de povos indígenas, no campo religioso, aliada ao fanatismo provocou a Santa Inquisição , a Noite de São Bartolomeu, as Cruzadas ,a prática de mutilações (extirpação de clitóris, por exemplo), o ataque ao World Trade Center, o surgimento dos kamikases, a coisificação da mulher sob o Taleban, entre outros atos...


A intolerância tem suas raízes na não-aceitação do diferente; espezinha semelhantes sob o olhar agudo que só ressalta e reprova a diferença...O intolerante, ao deparar o diverso, é incapaz de vê-lo como uma outra possibilidade do pensar pois, a sua leitura da realidade não admite um olhar que possa se antagonizar a ela.

Trata-se de um comportamento aprendido: ninguém nasce intolerante, com preconceitos. Adquirímo-los pelo que assimilamos, pelo que nos é transmitido inicialmente em nossa micro-sociedade, isto é, a família.Do modo com que a família lida com as várias facetas da razão alheia, vamos construindo nossos pilares, nossos "dogmas" particulares (dependentes de nossa plasticidade) e, nos inserindo em grupos de pessoas, de pensamentos semelhantes aos nossos. Tais grupos se formam de acordo com nosso ambiente sócio-cultural, nossa idade, e entre outros, nossa religião (ou ausência dela).

Ao fazermos parte de um determinado grupo ou ao intentarmos dele participar, uma condição "sine qua non" é a da semelhança entre os membros.Isso significa que há um critério que o define e que garante a exclusão do membro, no caso de divergência de leituras. É quando entra em cena a discriminação...

A discriminação surge de um estranhamento do outro: se aceito que meu comportamento é o normal, o necessário, o correto, qualifico o comportamento de quem dele se desvia como anômalo; se penso que minha cultura é superior e, por um revés da História, fui subjugado como povo, encho-me de preconceitos e crio piadas depreciativas ( loiras, negros...), por exemplo, para encobrir minha revolta, meu orgulho ferido; se vejo nos escritos religiosos verdades absolutas, dou o primeiro passo em relação ao fanatismo e alisto-me no "exército" a serviço de um Deus que mata...

Creio que a raíz da intolerância religiosa reside no fato de cada religião possuir a certeza de que sua verdade é absoluta, de que o seu Deus é o verdadeiro. A grande contradição é que, na maior parte delas, são princípios basilares o amor, a paz e a tolerância ao próximo...

A questão que coloco não é fazer uma apologia a esta ou àquela religião e sim, repensar sobre porque o diferente incomoda tanto, gerando a intolerância, muitas vezes agressiva e até mesmo assassina quando atrelada ao fanatismo.O que proponho não é uma tolerância no sentido "morno" da palavra, teórica, isto é, condescender, consentir que o outro me ladeie mas, que não adentre o meu grupo.Isso não passa de um preconceito velado (por exemplo, preconceito racial, sexual em países com uma Constituição que criminaliza tais condutas), a encobrir uma real indiferença ao outro, a disfarçar um sentimento de superioridade...

Proponho que paremos de "demonizar" as religiões diferentes da nossa; que haja um respeito mútuo - mesmo que na impossibilidade de confrontação dos dogmas de cada uma - ao Deus que todas proclamam ser justo e bom, criador de tudo e de todos...


O que proponho é que deixemos de inventar novas fogueiras para lançarmos, sob o fogo de argumentos medievais com novas roupagens, aquele cuja crença é diferente da nossa...Não proponho uma tolerância cega, promíscua, que afronta a dignidade e os supra valores (como a Vida, por exemplo), que assenta suas bases na total permissividade : isso aniquilaria qualquer possibilidade de convivência em sociedade.As palavras que definem e resumem minha proposta: respeito (ao diferente) , plasticidade (capacidade de adaptação), conhecimento ("Todo mal advém da ignorância"-Sigmund Freud).

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